Escoliótico | Uma reflexão seis anos depois

Como encarar a vida carregando em seu corpo um problema de saúde que te limita não só fisicamente, mas também, emocionalmente e socialmente?

Há alguns dias venho pensando no que escrever aqui no blog. Já faz três meses e quatro dias que não escrevo aqui, o que não é novidade, mas também demonstra um certo desinsteresse em escrever algo. Todavia, a verdade é que há muito eu tenho passado por um bloqueio criativo que tem me afetado completamente e isso tem sido um transtorno constante porque, afinal, eu gosto de escrever, gosto do meu blog e gosto de ser lido. Enfrentar um bloqueio criativo é como enfrentar sua própria mente que, neste caso, instalou uma porta em sua entrada e a trancou impedindo o acesso de qualquer um a ela, inclusive você, o dono dela.

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O autor reflete sobre o conceito de fé, definindo-a como uma convicção intransigente num poder superior. A postagem discute os aspectos positivos da fé; proporcionar conforto, fomentar a comunidade e fomentar a perseverança, mas também aborda os seus aspectos negativos; intolerância e seu uso para justificar danos. O autor, antes fervoroso na fé, revela um percurso de ceticismo, desilusão e questionamentos. No entanto, permanece o resquício de curiosidade agnóstica, principalmente quando confrontado com fenômenos inexplicáveis na vida do autor.

Hoje, eu tive um sonho. Nele, por algum motivo que me é desconhecido, eu era responsável por proteger algo de valor imensurável, eu lutava e combatia meus inimigos, até mesmo fui lançado ao ar com um deles em meus braços para derrotá-lo. O cenário ao meu redor era de cor púrpura e, no centro de tudo, havia uma torre muito grande a qual sustentava todo o local onde meu sonho se passava. Ao fundo, uma música era entoada com tanta firmeza e força de vontade pelas pessoas e entidades que lutavam ao meu lado. Era uma batalha difícil, a última batalha e eu era, por assim dizer, o estandarte das forças que lutavam para proteger aquele lugar e tudo o que ele representava. Se tivéssemos que morrer, morreríamos, pois nossa causa era a razão última de nossa existência e nada mais teria valor se ela fosse defenestrada. Infelizmente, não pude ver o final do sonho, acordei antes disso, mas a música entoada ficou na minha memória marcando meu dia e me fazendo pensar na palavra que dá título a este texto: fé.

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Poesia | Voltas

Um poema sobre as voltas que a vida dá, inspirado quase completamente nas próprias curvas que a escoliose impôs a mim.

As linhas tortas de meu corpo retorcido

Fazem as voltas de um sujeito atormentado.

E nessas voltas que meu corpo tem vivido

A vida se desmancha para todo lado.

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Mini Conto | A Queda

Se anjos não possuem livre-arbítrio, o que explica a queda do Primeiro Anjo?
Resolvi imaginar como teria sido e o resultado é este texto.

Não havia nuvens no céu quando ele pensou o que pensou. Até então, sua vida seguia como seguia todos os dias até ali; reverência após reverência ao Santo dos Santos e assim por toda a eternidade, era o que ele pensava. Mas, naquele dia sem data, sem hora e sem local marcado, um pensamento pairou em sua mente, até então, incólume de pensamentos estranhos: por que? Perguntara-se ele. Não havia uma resposta, pelo menos não àquela altura. Mas, dia após dia, essa pergunta martelava-lhe a mente cada vez mais e cada vez mais ele se sentia intrigado sobre o porquê de fazer o que fazia todos os dias ad infinitum.

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Poesia | Elementos

Um poema alegórico sobre os elementos da natureza e sua relação com a minha vida.

Hoje o sol brilha com força, iluminando todas as coisas do mundo.

Mas não sinto seu calor e sua luz, para mim, parece não iluminar todos os cantos.

Os pássaros não cantam ao meu redor

E ao redor de mim tudo parece pálido e sem vida.

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A morte como uma certeza para a vida

“É a vida e a morte andando, lado a lado, separadas por apenas um sopro, um sopro que muda tudo tão irremediavelmente que nada continua do mesmo jeito após isso.”

Quando nascemos, choramos. O choro é o nosso primeiro sinal de vida pós-uterina, é através dele que dizemos ao mundo que aqui chegamos e que, enquanto houver fôlego em nós, viveremos. Para alguns, a vida pode durar décadas. Para outros, sequer alguns minutos. Mas, o fato é que, em todos esses casos, vida e morte se unem por um laço único: o sopro. Ao nascer, berramos a plenos pulmões. Ao morrer, esavaziamos os mesmos pulmões com nosso último suspiro. O ar que circula na chegada ou na partida é o ar que marca o início e o fim da vida e é através dele que, em todo o tempo que aqui vivemos, marcamos nossa história e a de outros com a influência de nossa presença ou ausência. É a vida e a morte andando, lado a lado, separadas por apenas um sopro, um sopro que muda tudo tão irremediavelmente que nada continua do mesmo jeito após isso. Durante o choro de nosso nascimento, mudamos a vida daqueles a quem “pertencemos”, acrescentando não só uma boca a mais à mesa, mas também uma história a mais a ser vivida e compartilhada com os outros. Durante nosso último suspiro, damos adeus ao mundo e a tudo o que poderíamos fazer dali em diante, mas que não faremos mais porque, naquele momento, a vida decidiu que nossa história acabava ali e que nosso protagonismo, finalmente, chegava ao fim. É poético porque é o sopro que move tudo. E se olharmos além, veremos que ele move não somente nossas vidas individuais, mas o mundo como um todo; a areia soprada pelos ventos incessantes sobre o deserto do Saara, lá do outro lado do Oceano, chegam até aqui, no Brasil, e semeiam nossa Floresta Amazônica, dando vida e nutrientes a ela que, de outra forma, não conseguiria obter. E não para aí! O vento que sopra sobre a Floresta Amazônica é o que leva as nuvens com milhões de litros de água que se formam sobre ela até outras regiões do país criando um verdadeiro rio de nuvens que se move sobre nossas cabeças irrigando terras secas que, sem isso, seriam incapazes de sustentar a vida. O sopro da vida; sua presença move o mundo, sua ausência significa que tudo acabou. Ainda respiramos, mas já parou para pensar quantos, no dia de hoje, encerraram suas histórias e, talvez, você ainda nem saiba disso? Ou então, fazendo o caminho oposto, quantos novos bebês disseram olá a este mundo e estão fazendo a alegria de suas novas famílias? “A vida é um sopro”, dirá alguém. E não é mesmo? Num momento, você está aqui, no seguinte, sua existência não passa de lembranças e é sobre elas que deveríamos nos debruçar. Sobre nossas lembranças porque, afinal de contas, não é porque a vida é um sopro que devemos levar tudo de forma hedonista como se o fim fosse a única razão de existir. Há muito que se levar em consideração no espaço entre o choro do nascimento e o último suspiro porque o que se faz entre esses dois momentos diz muito não só de quem nós somos, mas de como vivemos. “O tempo não para” e é justamente por isso que um pouco de responsabilidade, consciência e prudência se fazem necessárias. Nossas vidas podem semear a floresta de outras pessoas e o mesmo pode acontecer na via contrária. Holisticamente falando, o todo está em um e o um está no todo e isso não é mera frase de efeito que uso aqui para encantar o jovem cirandeiro em busca de alguma reflexão profunda sobre algo. Vivemos num aquário, literal e figurativamente falando. Enquanto não formos capazes de atravessar as barreiras desse aquário, nossas vidas continuarão ligadas umas às outras infinitamente. E, para ser sincero, suspeito que mesmo se as barreiras forem desfeitas, essa ligação ainda permanecerá e isso diz muito sobre nosso futuro porque, afinal de contas, não vivemos todos para torná-lo o mais longo possível?

Deus: uma incógnita

“É difícil encontrar deus quando o mal prevalece sobre todas as coisas. (…) Mas, eu queria, do fundo do meu coração, que deus estivesse aqui, que ele colocasse sua mão sobre meu ombro e me consolasse nem que fosse por alguns segundos.”

Eu cresci em família cristã. Por muitos anos, a vida na igreja foi uma parte constante e alegre em minha história e isso não é e nunca foi demérito algum. A vida na igreja me trouxe muitas experiências felizes e satisfatórias, amigos que tenho como irmãos e, mais do que isso, serviu de base para minha concepção de vida e filosofia. Eu não seria o mesmo sem essa parte importante em minha história.

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Silêncio

“Hoje, aos 32 anos, a surdez é uma parte deveras importante em minha vida; ela definiu muito de quem eu sou e, ainda que algumas pessoas insistam em dizer que eu não “sou” surdo, mas “estou” surdo, eu sigo pelo lado contrário e digo que sim, eu SOU surdo e isso não é lá um grande problema, ainda que não seja também uma virtude.”

Eu tenho surdez. Essa é uma realidade com a qual convivo desde parte de minha infância. Hoje, aos 32 anos, a surdez é uma parte deveras importante em minha vida; ela definiu muito de quem eu sou e, ainda que algumas pessoas insistam em dizer que eu não “sou” surdo, mas “estou” surdo, eu sigo pelo lado contrário e digo que sim, eu SOU surdo e isso não é lá um grande problema, ainda que não seja também uma virtude.

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Quando me tiraram do armário

Na verdade, naquele momento, tudo o que eu queria era não ser gay, ser “normal”, o menino heterozinho que vai trazer uma norinha pra mamãe, ter um filho, um casamento na igreja e todo aquele bla-bla-bla cristão.

Em novembro de 2016, escrevi um texto aqui no Epitáfios a Parte refletindo sobre a realidade que muitos gays vivenciam ao passar pela experiência de sair do armário. Para quem não sabe, a expressão “sair do armário” é muito popular na comunidade lgbt+ e significa, em poucos termos, o ato de se assumir lgbt+ numa sociedade essencialmente heteronormativa e o choque geralmente resultante desse confronto. No texto em questão, eu fazia um convite à comunidade gay a se por no lugar de muitos que se assumem lgbt+ e a oferecer suporte a essas pessoas para que elas não passem pelos vários cenários negativos que podem surgir diante dessa revelação. Em parte, esse texto foi inspirado em minha própria história de vida, em minha experiência traumática e não voluntária de me assumir gay. Como nunca falei sobre isso antes, resolvi aceitar a sugestão de um grande amigo e fazer um pequeno “exposed” desse momento peculiar de minha vida.

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Uma reflexão sobre verdade e mentira na fábula do menino e o lobo

“Verdade e mentira são lados de uma mesma moeda; ainda que distintas, ambas dizem respeito à mesma coisa, dizem respeito ao mesmo objeto de estudo a partir do qual se elabora uma informação.”

Epitáfios a Parte

Existe uma fábula que retrata a história de um menino pastor de ovelhas que, entediado pelo seu trabalho, resolve fazer uma brincadeira para atrair a atenção de seus conterrâneos na aldeia onde vive. Durante o pastoreio de suas ovelhas, ele grita, desesperado: Lobo! Lobo! Seus companheiros, vendo sua aflição, correm para socorrê-lo e salvar as ovelhas do tal lobo. Ao chegarem ao local onde está o menino e constatarem que tudo não se passava de uma história inventada para atrair a atenção dos aldeões, eles, descontentes, deixam o garoto sozinho. O menino repetiu a brincadeira várias vezes ao longo dos dias e, a cada vez, os aldeões iam socorrê-lo, mas davam de cara com a mentira. Certa vez, porém, um lobo de verdade apareceu na região e o menino, agora realmente desesperado, correu a pedir ajuda, gritando a plenos pulmões “Lobo! Lobo!” Os aldeões, porém, já acostumados com as brincadeiras…

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